Welcome

Dois grandes dragões alados vigiam os portões de horm maciço. A entrada está ali, na passagem de muitos mas poucos a vêem, convido-os a entrar. Cruzem os portões e caiam no meu mundo.

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

One Day, One Room


Eu terminei ontem uma das melhores séries de todos os tempos, se não a melhor e agora minha vida perdeu o sentido - não literalmente, claro. Me disseram que foi porque eu vi rápido demais mas acho que foi o contrario, acho que vi rápido demais porque me envolvi demais, porque já era um caminho sem volta, quando eu já estava vendo rápido eu já sabia que seria assim quando acabasse, porque já sabia que estava envolvida o bastante. Eu comecei a ver por acaso. Ok, não foi realmente por acaso, mas um acaso do calendário deu uma forcinha para o momento. Eu fatalmente sofreria com isso um dia porque era parte dos meus planos mas então o destino colocou a série na lista de títulos que sairiam do Netflix em setembro, especificamente dia 20, eu escutei a voz do Jigsaw no fundo da minha mente dizendo "vamos jogar um jogo" e outra voz respondeu "desafio aceito". Eu realmente não achei que fosse dar tempo, mas mal percebi quando a amoralidade do mundo particular de House tomou conta de mim, eu mergulhei em sua mente e se tornou meu vicio. 

Primeiro era pelo quebra cabeça, depois pelas relações divertidas e as comédias do pano de fundo, então pelas complexidades de cada um, mas no fundo sempre foi pelo quebra cabeça - sobre entender como funciona cada um, um em especial. Sobre como se constrói sua própria moral cheia de suas próprias regras em seu próprio mundo sem ética, mas leal e transbordando de sentimentos que ninguém além dele próprio poderia entender. Sobre lidar com a dor física e emocional e ser forte por mais difícil que seja, sobre viver a vida antes que seja tarde demais mesmo que morrer seja mais fácil que viver porque todo mundo morre e nada muda isso, sobre encarar a verdade e as pequenas - e grandes - mentiras que contamos no dia a dia porque ninguém pode viver só de verdade. Sobre estar completamente com quem se está no momento presente.  

Entre quedas, shipps, risos e lágrimas, cada novo episódio te obriga a olhar para uma verdade inconveniente sobre si mesmo, te faz reavaliar algo sobre sua própria vida. A raiva por uma atitude ou um personagem incomodo é na verdade sobre você mesmo. House ajudou todos os seus funcionários a colocar sua vida em ordem, até seus chefes e com certeza seus fãs, ajudou todos que passaram por ele porque tudo o que ele disse poderia se aplicar a alguém e com certeza todo mundo o ouvia falando consigo em algum momento ou então se via nele.
Entrar em sua mente e compreende-lo é uma lição de vida e um caminho sem volta. As pessoas não mudam mas sempre podemos seguir em frente, não mudar não significa não aprender. 

Eu precisava de alguém para conversar, pra poder lidar com isso, poder lidar com a enxurrada de informações e sentimentos que seu universo trouxe, então nossas conversas se tornaram onde eu falava sobre o que precisava, assim conseguia continuar. Assim conseguia assimilar. Então eu terminei, meu jogo de brincar com comentários acabou e ansiedade dos últimos dias sonhando com os personagens também. Geralmente procuro algo idiota e banal para sair da fenda que entrei quando me sinto assim com algo, mas não consegui, Gregory House merecia mais. Não consegui entrar em outra coisa sem sentido, fui atrás de um texto que meu amigo - que me aguentou durante meu mergulho nesse mundo - havia escrito e a ironia é que eu já havia lido há três anos.
Antes de reler eu precisava lidar com isso.

https://www.youtube.com/watch?v=BkS8sd8paBk

terça-feira, 15 de julho de 2014

A Copa Das Copas

Ontem eu acordei e não tinha mais Copa, hoje eu acordei e.. erm, não tinha mais Copa (?). Eu estou com a maior saudade já, estou sim, de verdade. Que teve um monte de coisas erradas na organização ninguém pode negar. Mas que ninguém venha com falso moralismo, essa Copa foi linda! O Brasil é um país cheio de problemas mas que deu um show a parte de receptividade, se por um lado decepcionamos no futebol, nós deixamos uma ótima impressão pro povo lá fora. Somos sim um povo educado e receptivo. Claro que em duzentas milhões de pessoas vai ter gente babaca, racista, ignorante, mas generalizar e tomar essas atitudes como uma caracteristica do Brasileiro é ridiculo e eu estou sim orgulhosa dessa Copa :) A Copa das Copas, com certeza, a copa da zueira, a copa da zebra, a copa do orgulho. A Copa do orgulho de Ser Brasileiro SIM. Porque orgulho de ser brasileiro não é só no futebol, orgulho desse povo lindo que recebe bem quem vem de fora (mesmo não tendo a mesma receptividade lá fora), orgulho sim ;) Mostramos muita coisa nessa Copa, uma delas é que somos sim mais do que o país do futebol, mesmo com os milhares de problemas e quem viu isso foram os estrangeiros. Eu sei, quem precisa enxergar e acreditar somos nós. Mas quem sabe agora eles param de ver a gente só como futebol e bunda? 

Desculpa mundo, eu não sou uma pessoa alienada e conivente com os problemas do meu país porque curto copa do mundo. Eu sou uma pessoa que me envolvo com um evento que TAMBÉM é cultura, que aliás é uma mistura linda de cultura e integra o mundo inteiro. Se tem gente que literalmente para a sua vida isso é problema da pessoa, que cada um faça o julgamento de si mesmo. Eu carrego desde criança uma consciência de como lidar com os acontecimentos, e carrego também esse envolvimento com copa do mundo, não é depois de vinte e seis anos que vai mudar. Eu vou poder contar pros meus filhos que em 2014 teve uma Copa no Brasil e o quanto ela foi linda, vou contar que ninguém acreditava nela mas que o povo fez dela bonita porque integramos com outros povos e isso foi bonito. 


É uma pena que muita gente não consiga ver o lado bonito, uma pena que nesse momento existam tantos "médicos" julgando a lesão do Neymar , uma pena que os brasileiros desacreditem deles próprios, que agora existam tantos técnicos, que as pessoas julguem um jogador porque ele "ganha dinheiro", que as pessoas julguem tantas coisas em vez de canalizar essa vontade de justiça para problemas mais reais. Quando você olha pras situações conscientemente e avalia elas, pode curtir com a consciência tranquila, não precisa misturar os problemas. Pena que muita gente não sabe fazer isso e troca o lazer pelo real.

Eu Acompanhei a copa, acompanhei as noticias, a copa durou um mês, a realidade continua ;)

Mas que vai deixar uma puta saudade, vai sim!

A Copa que eliminou campeões mundiais na fase de grupo, trouxe a Costa rica como grande revelação e a Alemanha com um show de humildade, uma integração cultural em proporção continental e ainda o reencontro de um cachorro uruguaio com seu dono no Beira Rio, COMO não sentir saudades? 

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Livro em Branco

Trezentas e sessenta e cinco páginas em branco, é assim que um novo ano deveria ser visto. Vinte e quatro linhas em branco, é assim que um novo dia deveria ser visto. Sessenta palavras espalhadas, é assim que uma nova hora deveria ser vista. Palavras pra se ordenar, para construir frases, versos, poemas, histórias e estórias, escrever capítulos inteiros, dias inteiros! Tantos dias quantos couberem num ano. Quem sabe numa vida inteira, quem sabe uma vida inteira seja pouco tempo para tanto silencio, quem sabe uma vida inteira seja livros em branco demais para se preencher. Quem sabe a gente não passa por todos esses livros pulando páginas com medo de preenchê-las, com medo de escrever errado ou escrever certo e viver errado. Com medo das palavras certas na hora errada ou da palavra errada na linha certa. Quantas linhas pulamos, quantas páginas ficaram para trás, quantos livros já foram dos quais nos orgulhamos, de quantos ficou a vergonha, quantos temos medo de olhar, quantos vamos escrever, quantos vamos olhar, quantos vamos esperar que se escrevam sozinhos e guardar em branco no fim das trezentos e sessenta e cinco folhas?
Uma página em branco assusta porque ela está te perguntando o que fazer, ela quer uma resposta, quer tinta, quer virar história. Escolher uma palavra é não escolher todas as outras, uma página em branco está te exigindo que escolha palavras e que não escolha todas as outras.
Ai a gente rabisca nossas ideias, nossas ideias bagunçadas esperando escrever grandes coisas com medo de estar tudo errado. Mas basta escrever e fazer as próprias páginas, nosso livro nós que fazemos, trezentas e sessenta e cinco páginas que dependem unicamente de nós ou ficarão em brancas para sempre perdidas em prateleiras velhas cheias de pó. São oportunidades para se preencher, pontinhos para ligar e desenhos para colorir, são nossos dias, nossas horas e nossos minutos, nossas páginas, linhas e palavras, nossa tinta imaginária, nosso tempo contado escorrendo pelas nossas mãos. Nosso tempo, gostas de tempo, escorrendo pelas páginas em branco pedindo pra ser escritas. Não seria injusto deixá-las em branco?
Um livro de trezentas e sessenta e cinco páginas...uma oportunidade nova por dia, a cada minuto, infinitas chances de mudar tudo, de sonhar e fazer.
Fazer, e fazer, e fazer.
Virgulas e letras, exclamações e acentos, palavras e mais palavras.
Ponto final, nunca

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Desde sempre, Pra sempre.

Era Interunesp, um ano especial, Bauru concorrendo a tríplice coroa.. e eu não estava lá dessa vez. Geralmente são os melhores quatro dias do ano, mas mesmo assim foram os quatro melhores dias do ano. A gente vive de escolhas, por mais difíceis que elas sejam sempre nos reservam experiências novas e as vezes vale a pena fazer essas escolhas. Essa data foi especial mesmo assim, por vários motivos. E, olha só, ainda cheguei em casa e Bauru era Deca =D

Começou ano passado eu acho, quando vi que devia ter ido no SUA 2012 e decidi que esse ano eu iria independendo de onde fosse, quando ou como. O fato de cair no mesmo dia do inter me fez tomar uma decisão muito difícil, mas acho que a gente precisa aprender a tomar decisões e isso não significa deixar algo de lado. É só meio que escolher o que viver naquele momento. Começou também há uns anos, cinco.. talvez seis? Eu acho meio esquisita essa coisa de tempo, as vezes a gente acha que conhece uma pessoa uma vida toda, há várias vidas as vezes, mas nesse nosso calendário que vale aqui passou só, uns anos. Pra falar a verdade eu não sei realmente quando isso começou, de repente as coisas se misturaram tudo e eu não conseguia mais separar. Minha decisão já estava tomada ano passado, a duvida só surgiu pra me fazer pensar essa decisão. Eu não fazia ideia de onde seria, pra onde iria, mas no fundo já tinha feito a minha escolha. E foi quando realmente divulgaram o lugar que as coisas se misturaram e viraram uma só.

De repente tinha um monte de motivos numa coisa só, de repente minha escolha – feita há um ano – ganhou muito mais sentido e virou um sonho. Um sonho antigo, que existia desde sempre eu acho, sempre esteve ali comigo mesmo sem eu saber a razão e ninguém entendia. Era coisa de criança, depois de adolescente, coisa que a gente vê na TV, coisa que a gente imagina, coisa que continuava comigo, estranhamente continuava. Mais pra frente vieram pessoas, mas elas não eram a razão porque o sonho sempre existiu, elas existiam junto com o sonho. Depois veio minha decisão e o SUA, tudo coexistindo, tudo tornando as coisas uma só, cada vez mais. Mas sempre foi um sonho, sempre seria, tudo poderia dar errado, a gente sabe que sonhos não acontecem. A gente sabe, todo mundo sabe. Não é?

Claro que não. A gente enfia essas coisas na cabeça, eu não sei bem porque. Mas já fiz tanta coisa, já vivi tanta coisa, a vida já me deu tantas oportunidades que seria realmente injusto com ela dizer que sonhos não acontecem, por mais que a gente insista em pensar isso. Por mais que a gente aprenda isso em nosso dia a dia. Esse sonho era diferente, era antigo, tão antigo e meu que ficou guardado num cantinho pra não precisar explicar pras pessoas que eu não sabia explicar ele, pra não precisar dizer que ele simplesmente existia quando perguntassem o porque. Ficou guardado porque a gente aprende que as coisas não acontecem e eu queria deixá-lo ali guardado sem ter que olhar toda hora pra ele. Eu dizia pra mim mesma que as coisas dão certo e não sei o quanto eu acreditava nisso de verdade, mas muita coisa deu certo mesmo e as vezes eu ainda sou injusta com a vida por achar que estou pedindo demais e nunca vou conseguir. No final a vida me deu (mais) esse sonho.

Um sonho com tanta coisa misturada, um evento nacional daquilo que eu amo com gente de todos os cantos de todos os jeitos e milhares de cabeças diferentes, pessoas que tem um espaço único aqui e estarão sempre guardadas comigo mesmo que distantes, pessoas novas e um lugar lindo com cheiro de mar. Tudo junto, de repente uma coisa só. Quatro dias incríveis, mágicos, inesquecíveis, cheios de coisas que eu amo desde sempre.

Muita coisa eu carrego comigo desde sempre. Me perguntavam se eu nunca mudei de ideia, se nunca quis fazer outra coisa da vida, eu entendo isso porque prestar seis vestibulares é um saco mesmo e eu vi muita gente mudar de ideia ou desistir num intervalo assim, mas eu nunca me vi fazendo outra coisa. Nunca. Desde sempre, nunca. Era como não ser eu, eu tinha que fazer isso porque era isso que eu era. E, olha só, de repente estava em meio a gente de tantos lugares diferentes com sonhos parecidos, vivendo coisas parecidas e trocando experiências tão iguais e diferentes.

E a gente dizia brincando “mas você existe mesmo?”, era mais um jeito de dizer que gostava do outro e queria tê-lo mais perto nesse nosso cotidiano todo confuso e estranho. E a gente falava que um dia ia se ver sem saber o quanto acreditava nisso. E isso foi há tanto tempo, e parece que foi ontem, parece.. foi há alguns anos, as vezes a gente nem lembra quantos, mas parece muito mais. Mas lá no fundo acho que todo mundo acreditava que era possível, ou não seria. Vai ver essa energia toda que anda por ai se juntou. Sei lá né. De repente estávamos juntos e não importa se nos falamos pela ultima vez há um dia, um mês, um ano, estávamos juntos. Porque as coisas dão certo um dia, acho que elas sempre são feitas pra dar certo. Nada que dura tanto tempo é feito pra não dar certo, eu acho.

Cada um, no final das contas, fez parte do meu sonho quando ele se realizou, cada um de um jeito ou de outro com todas as suas particularidades. Não tinha lugar melhor pra viver tantos momentos lindos e únicos, especiais e tão sonhados, com cheiro de mar <3 font="">

A gente ainda brinca, ainda quer que dure mais, que se repita, que não se acabe, agradece, lembra e revive... mas agora está pra sempre, mais pra sempre um pouco, cada dia mais, cada memória mais. Agora tem um cantinho especial na minha memória, dias eternos e especiais tão sonhados. Mesmo a musica que não tocou, as palavras que não dissemos, os olhares tímidos, tudo que pensamos em fazer, os pensamentos guardados, as viagens sem sair do lugar.

Eu amo cada um de um jeito, cada coisa de um jeito, amo tudo e cada coisa e pessoa de um jeitinho diferente. No fundo eu amo tudo isso.

No final das contas, uma das escolhas mais difíceis que eu fiz foi a melhor que eu poderia ter feito. Não tem como dizer o quanto isso tudo foi especial, eu espero que cada um que está relacionado aqui se identifique e entenda o que significou pra mim mesmo sem eu nunca conseguir expressar direito ^^.


Ficou grande, eu sei =P

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Tinta e Papel

No dia seguinte ela ainda se lembrava dele, apoiada no vidro da janela do onibus olhando fixamente pro nada com a imagem um pouco embaçada pela sua própria distração ele preenchia sua mente como se ainda estivesse entre as suas mão. Era fácil mergulhar dentro das histórias que lhe sussurrava ainda que estivessem distantes, ela fechava os olhos e se via virando suas páginas com cuidado num mergulho cada vez mais profundo em meio as palavras mágicas que a levavam para outro mundo. Os momentos diarios de distração a levavam de volta para esse mundo que só ele podia lhe proporcionar, o livro que estivera em suas mãos. Ao caminhar pela rua automaticamente o caminho passava por ela e ao seu redor quase dava pra ver o mesmo cenário que havia imaginado, as falas se repetiam em sua mente, a capa permanecia estampada dentro de seus olhos e assim seria por um bom tempo até aquela estória se dissolver e ela estar pronta para outra. Assim funcionava suas viagens. Assim, dizem também, é o amor por esse universo.
Se Meggie passava a mão sobre a capa delicadamente da mesma forma que Mo, ela também o fazia. Não só passava a mão sobre a capa e mostrava seu respeito pelo que estaria ali dentro como também gostava de sentir seu cheiro, observá-lo, preparar-se para ouvir da forma mais pura o que o livro tinha para lhe contar. 

A gente se conhece, dizem, melhor quando nos reconhecemos nos outros - ou nos personagens que lemos - reconhecemos nosso defeitos e nossas qualidades, nossas características e descobrimos ainda manias escondidas em hábitos, pensamentos, princípios e sentimentos. As vezes nossas estórias preferidas revelam mais de nós do que nós mesmos e esse sentimento de identidade que torna tudo mais fantástico. Talvez porque eu ame escrever e ame o poder de dar vida a um universo. Talvez porque eu respeite esse mesmo poder e tudo o que ele pode criar, todas as vidas que saem dai quase literalmente, não tanto quanto Mo pode fazer. Talvez porque, assim como Elinor, eu ame e respeite os livros, porque assim como Meggie espere que eles me levem para o mundo de tinta e papel e entenda como é sentir saudades de viver nesse mundo porque entendo como um personagem se sente. E entenda a magia de se encontrar com seus personagens porque me encontro com os meus em meus pensamentos, eu não consigo imaginá-los fora dos meus pensamentos porque esse não parece um mundo no qual eles viveriam então é assim que os encontro e os ouço falar, ouço suas vontades e os conheço. Mas por isso eu entendo o sentimento de tê-los criado e poder vê-los um dia. Por isso eu respeito suas vontades.


O primeiro amor de uma pessoa deve ser um livro, ou um personagem, ou uma palavra... um monte delas, seus sentidos, ou descobrir tudo o que se pode fazer com elas, aprender a juntá-las, ou só conseguir decifrá-las. Ler um livro é chegar a alma das palavras e compreender seus sentidos, deixá-lo te guiar e te levar para um universo distante, deixar que esse universo entre em você e faça parte do que você é. É um caminho sem volta, você nunca poderá tirar esse universo de seu interior e você estará impresso nas páginas do livro pra sempre. Quando pegá-lo de novo daqui uns anos ainda estarão ali todas as suas memórias e as suas lembranças da primeira vez que o pegou, todos os seus sentimentos e os locais em que esteve, os cheiros e os sabores. As páginas de um livro guardarão todos os segredos que você precisar, ficará pra sempre impresso ali a lágrima que você conteve, a raiva, a frustração, a alegria, todos os xingamentos mentais, as conquistas e as derrotas, segredos de todos que já o leram ao menos uma vez, que já o tocaram, o abriram, de todos os dedos que já folhearam. 


Todo livro guarda ainda seu próprio segredo, o segredo do seu próprio mundo de tinta por trás das letras e palavras, por trás das folhas, por trás das palavras lidas, antes do começo e depois do fim. Segredos que só ele sabe e nunca contará. Segredos sedutores e tentadores que te convidam para dentro do livro com a promessa de um mundo inteiramente seu, você segue a voz, entra nesse mundo e os segredos continuam inalcançáveis, você os persegue, segue a voz que chama cada vez mais para dentro da estória, mergulha mais fundo, página após página, você não pode mais voltar, precisa continuar, você continua, mais uma página, mais uma, só mais uma, você precisa terminar, precisa saber o que acontece, como termina, você não quer chegar no fim, não quer ter que terminar, ter que se despedir, mas você precisa, você precisa saber os segredos, você continua seguindo a voz que te guia constantemente quase como um sussurro te convidando a ir mais além, você vai, você continua, você precisa parar, já está tarde, você continua, está quase lá, falta pouco agora, só mais um pouco, então você vira a ultima página e experimenta uma das sensações mais ambiguas possíveis. A satisfação de conhecer (quase) completamente o que aconteceu e  a triste despedida de um mundo, você fecha o livro e despede-se daquele mundo - que ainda te visitará por muito tempo sem que sua mente se de conta. Então a estória te persegue, entra em você e não tem nada que você possa fazer, você sabe que ela não te contou tudo, ainda existem segredos antes do começo e depois do fim, você nunca saberá. Nunca. Nunca. Nunca. É quase perturbador, mas essa é a magia.

Os mundos se misturam dentro de você e isso também é mágico porque vai ver eles não foram feitos para viver separados e cada pessoa é uma mistura de mundos diferente e cada pessoa é um universo incrivelmente único de mundos misturados, milhares de mundos que vivem eternamente em quem os lê. 

Ler se torna mais mágico quando você compreende o quanto é mágico escrever e ser o Deus de um mundo de tinta e papel.


Cornélia Funke escreveu, entre outras coisas, a trilogia Mundo de Tinta e nunca ninguém descreveu tão perfeitamente como me sinto com algo importante como ela fez com livros. Obviamente, nem eu aqui escrevi sobre mim tão bem quanto ela o fez com a trilogia.

domingo, 16 de junho de 2013

Deve haver alguma banda que ainda te emocione.

Deve haver alguma coisa que ainda te emocione, alguma causa, alguém, algo, alguma banda, alguma musica - dessas que uma banda nunca toca sem razão -  um sonho realizado, uma noite, um show, duas horas da sua vida eternizadas na magia de um sonho. Mais que isso, há algo que ainda te emociona e é mais forte que isso, é um sentimento, é tocar algo inexplicável dentro de você.

As vezes a gente acredita que sabe explicar razões e motivos, coisas, pensamentos, sentimentos, e não parece existir porque pensar o contrário. Parece, na verdade, muito lógico saber explicar algo que diz respeito a você mesmo. A gente se dá conta do quanto uma coisa significa para nós quando nos damos conta da nossa incapacidade de se expressar sobre isso, da nossa incapacidade de traduzir esse sentimento, da impossibilidade de sintetizar esse significado. Quando um significado não tem nada que o simbolize e o represente adequadamente a gente percebe que é algo maior, é algo profundo, importante, mais importante do que acreditávamos. Sempre me pareceu óbvio falar das nossas próprias coisas, ainda que exista um significado unico para cada um, ainda que represente um intimidade particularr, ainda que somente cada um saiba de seus próprios sentimentos e os outros jamais vão entender da mesma forma, eu sempre achei que falar de algo só seu era não só esperado como viável, óbvio. Talvez a coisa mais fácil do mundo, quem melhor do que cada um para falar sobre suas particularidades? Mas eu estava errada. Não ter palavras é mais do que não ter significado, pode também significar excesso de significado. Aquele momento em que os argumentos se esvaem porque eles simplesmente não são mais suficientes, eles estão aquem do que nosso intimo anseia dizer sobre isso, eles se tornam inuteis. Tão inuteis quanto são as palavras, uma unica palavra bastaria, passaria a limpo a vida intera, mas essa palavra não existiu. Sequer uma frase seria capas de explicar, traduzir ou representar. E, quando tudo se esvai, é porque é realmente genuino. Quando essa impossibilidade de simbolizar um sentimento se torna tão grande a gente ve o quanto realmente é importante o que tentamos expressar e o quanto realmente não tem como expressar porque diz respeito somente a nós. 


Uma palavra na tua camiseta, uma palavra escrita a lapis, a tinta, uma frase, uma musica, uma ideologia, uma pergunta, um sentimento, uma resposta. Tua palavra na minha camiseta, brincando com seus trocadilhos, suas metalinguagens, vestindo uma idéia, uma tentativa vã de externar o que só existe dentro. Mais dificil quando a primeira pergunta tem tantas respostas. Quando tudo te emociona, uma chance, um sonho, uma possibilidade, uma oportunidade, sim... uma pessoa, uma mensagem (ou muitas). Como tudo que é bom na vida, as melhores chances de ser feliz acontecem quando não esperamos por nada, elas nos colocam escolhas, nos dão uma oportunidade e é assim que começa (quase) sempre. 


Não era um show, era ele. Era a chance de estar tão perto quanto nunca estaria, a chance de ver, sentir, ouvir, ser parte. Acima de tudo, era ele. Era, mais uma vez, uma oportunidade unica de realizar (mais) um sonho - sim, porque seria injusto dizer que nunca realizei outros, o que não tira a importancia desse. As vezes as coisas são tão importantes que a gente não acredita nelas, ou não se deixa acreditar. Talvez por isso eu cheguei tão perto, deixei me aproximar tanto como se houvesse algo adormecido dentro de mim, como se nao me permitisse sentir as coisas me aproximando. Me permiti que outras coisas ocupassem espaço em mim como se no fundo fosse só mais um sonho desse que acontecem enquanto a gente dorme.
Engraçado isso de viver algo sem viver, sem se deixar viver, como se existisse um medo esquisito de não ser verdade mesmo com coisas concretas nas mãos. Por um lado parecia que duas semanas nunca passariam, ou uma, ou dias, só o ultimo dia pareceu que ia passar. Por outro eu precisava ser unica, diferente, precisava ser eu mesma, só eu. Precisava ser diferente, não por ser diferente, mas para não ser apenas mais um. Só eu sinto o que eu sinto e era isso que eu precisava ser, o que eu sinto. E isso é unico. Eu precisava representar isso, precisava ser mais que só mais um. E foi assim que percebi que não conseguiria achar uma forma de representar todo esse sentimento de uma vez só, eu percebi que não existia uma forma de simbolizar o que esse momento significava pra mim, o que essa pessoa representava. Existia, sim, várias formas, mas não apenas uma. Apenas uma que me deixasse satisfeita e traduzisse o que eu sinto era impossivel. Eu percebi que só simbolizaria meu sentimento com algo que simbolizasse uma ideologia, não completamente, mas concluir com uma pergunta é uma ótima brecha para não concluir. Afinal? O que é Rock`n Roll? Os óculos do Humberto ou o olhar do Paul? 


Uma musica, uma frase, um trocadilho, uma ideia, uma ideologia e amigos, só. Amigos que estão ao seu lado, te apoiam, te ajudam, se doam por você, cedem seu tempo a você, para te ajudar a se sentir completa. Amigos que fazem por você e, de alguma forma - fisica ou não - permanecem ao seu lado. A força de uma palavra escrita a tinta por uma pessoa que só atendeu um pedido, a força de um apoio de perto e de longe e uma companhia inseparável. A força de uma voz, uma musica, uma pessoa, um sentimento. Tudo isso tornou muito mais importante, não era só meu sonho se realizando. Era um conjunto de ações em movimento pro meu sonho se realizar e isso foi incrivel.

E estar lá foi incrivel e vê-lo foi incrivel. Foi surreal, foi como viver num universo paralelo por duas horas, duas horas durante as quais o mundo parou para eu viver e compreender a magia daquilo que não pode ser compreendido. Mas hey mãe! Tem uns paulistas cantando comigo. Nessa terra de gigantes em que os sonhos valem a pena. Se tudo passa, talvez você passe por aqui e me faça acreditar em tudo que ouvi. Vai ver tudo passa. E você passou por aqui, e me fez entender tudo o que não pode ser dito em três minutos. Todas as canções que uma banda nunca toca sem razão são herança dos dias que virão. E, sim, eles virão. Vieram e vão continuar vindo.

Mas vai ver o que eu digo não faz sentido pro resto do mundo e pra entender basta uma canção da banda preferida. Sei lá... Reza a lenda que a gente nasceu pra ser feliz, que o crime não compensa e tudo conspira a favor. Dizem que quando desejamos muito uma coisa todo o universo conspira a nosso favor né? Não sei, não sei se mereço tanto, mas reza a lenda... reza a lenda que  a noite é uma criança. Mas o tempo passou, claro que passaria. O que ficou? A lembrança de duas horas mágicas, incrivelmente mágicas, os olhos marejados de ver uma multidão cantando juntas um coro quase ensaiado e um pedido muito audivel sendo atendido. E, talvez o mundo lá fora não seja uma ilha. Talvez esteja só a milhas e milhas de qualquer lugar esperando para ser o porto seguro de alguém.


No final perdemos muito tempo brincando de perfeição e esquecemos o que somos: simples de coração. Aquela perfeição que não existe e aquela simplicidade de não se explicar um sentimento. Fica aquela imperfeição de não existir como agradecer as pessoas que te apoiaram e estiveram do seu lado, a impossibilidade de dizer o significado disso da mesma forma que foi impossivel traduzir antes, a inutilidade de usar palavras para ilustrar algo tão especial, uma imensa saudades daquelas suas horas e uma certeza: tudo que senti, tudo que vivi, tudo que ele é pra mim não da pra explicar. pra entender não bastam seis segundos de atenção ou seis minutos pra canção. Nada disso é tudo. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Plano sequencia

Dessa vez eu resolvi que não ia fazer uma retrospectiva. Sei lá, a vida é um plano sequencia e na verdade isso não é ruim, seria fácil demais separar os cortes perfeitos e editar os melhores momentos. Com sorte nem ia travar na hora de renderizar. Mas a adrenalina do plano sequencia é muito mais tentadora, você tem só uma chance pra viver, só uma chance pra fazer dar certo, sem cortes, sem segunda chance, sem nada, só você no meio do mundo enquanto sua consciencia te observa com uma camera e registra todos os seus erros e acertos na sua mente; na maioria das vezes da errado, claro. Mas viver sem cortes ainda é mais sedutor. Sem um post separando um ano do outro, um dia comum como qualquer outro com pessoas de branco desejando bons votos àqueles com quem nunca conversa. Sem um calendário que muda do trinta e um para o um ou um relógio com ponteiros marcando o ritmo da sua vida. 

Eu queria falar um monte de cosias sobre nada e nada sobre tudo, um monte de coisas desinteressantes. eu não conseguia porque faltava alguma coisa, era dificil saber o que faltava porque não parecia que faltava alguma coisa. Só que eu não conseguia escrever as coisas que eu queria e então percebi que não tinha a retrospectiva. Eu havia enchido o saco de retrospectiva e deixei sem, deixei o tempo passar, deixei as coisas acontecerem e a retrospectiva ficou para trás, ficou pro próximo ano, pra próxima contagem regressiva. Mas era como se precisasse de algo marcando um fim e um começo, até eu perceber que não precisava, que era só olhar pra coisa como se tudo fosse só continuo. Eu só precisava perceber que vivemos num plano sequencia e o quanto isso é mágico. A gente tem uma necessidade esquisita de marcar as coisas, marcar os começos e os fins, contar as coisas como se tudo fosse um pedacinho separado que só existisse individualmente


As coisas não acontecem separadas, a vida não acontece em partes. Um plano puxa o outro, uma cena junta com a outra, o roteiro da vida se auto-escreve em tempo real enquanto montamos um making of imaginário de tudo o que não fizemos.E a edição dos melhores momentos fica pra depois, antes tivesse tempo se não o gastássemos vivendo, deixa pra depois, nos intervalos comerciais, nos cinco minutos de vazios nos quais a gente para e pensa em tudo que já foi e tudo que nunca será. Antes desse tempo de sentar e editar a vida, não estivéssemos ocupados fazendo ela acontecer. A gente finge que não tem nada errado, pra lembrar na próxima noite de insonia e encerrar com um fade out, acordar no dia seguinte e recomeçar tudo de novo com um corte imaginário. A gente finge que tem uma transição ali naquele ponto em que tudo se apaga e acende outra vez, finge que tem um intervalo pra ensaiar mentalmente a próxima cena, não estivéssemos dormindo essa hora seria o ensaio ideal.


A gente começa outro dia sem ensaios, o roteiro não está pronto e o making of não existe. Mas o dia seguinte acontece mesmo assim numa sequencia sem cortes. Todos os dias chegam sem cortes como os minutos que correm até a fita acabar. Ai só resta apertar play e torcer pra vida ter valido a pena, quase ao mesmo tempo em que ela aperta o próprio stop. Na falta de um pause pra pensar sobre o próximo angulo a gente só espera que no final das contas de tudo certo.