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Dois grandes dragões alados vigiam os portões de horm maciço. A entrada está ali, na passagem de muitos mas poucos a vêem, convido-os a entrar. Cruzem os portões e caiam no meu mundo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Plano sequencia

Dessa vez eu resolvi que não ia fazer uma retrospectiva. Sei lá, a vida é um plano sequencia e na verdade isso não é ruim, seria fácil demais separar os cortes perfeitos e editar os melhores momentos. Com sorte nem ia travar na hora de renderizar. Mas a adrenalina do plano sequencia é muito mais tentadora, você tem só uma chance pra viver, só uma chance pra fazer dar certo, sem cortes, sem segunda chance, sem nada, só você no meio do mundo enquanto sua consciencia te observa com uma camera e registra todos os seus erros e acertos na sua mente; na maioria das vezes da errado, claro. Mas viver sem cortes ainda é mais sedutor. Sem um post separando um ano do outro, um dia comum como qualquer outro com pessoas de branco desejando bons votos àqueles com quem nunca conversa. Sem um calendário que muda do trinta e um para o um ou um relógio com ponteiros marcando o ritmo da sua vida. 

Eu queria falar um monte de cosias sobre nada e nada sobre tudo, um monte de coisas desinteressantes. eu não conseguia porque faltava alguma coisa, era dificil saber o que faltava porque não parecia que faltava alguma coisa. Só que eu não conseguia escrever as coisas que eu queria e então percebi que não tinha a retrospectiva. Eu havia enchido o saco de retrospectiva e deixei sem, deixei o tempo passar, deixei as coisas acontecerem e a retrospectiva ficou para trás, ficou pro próximo ano, pra próxima contagem regressiva. Mas era como se precisasse de algo marcando um fim e um começo, até eu perceber que não precisava, que era só olhar pra coisa como se tudo fosse só continuo. Eu só precisava perceber que vivemos num plano sequencia e o quanto isso é mágico. A gente tem uma necessidade esquisita de marcar as coisas, marcar os começos e os fins, contar as coisas como se tudo fosse um pedacinho separado que só existisse individualmente


As coisas não acontecem separadas, a vida não acontece em partes. Um plano puxa o outro, uma cena junta com a outra, o roteiro da vida se auto-escreve em tempo real enquanto montamos um making of imaginário de tudo o que não fizemos.E a edição dos melhores momentos fica pra depois, antes tivesse tempo se não o gastássemos vivendo, deixa pra depois, nos intervalos comerciais, nos cinco minutos de vazios nos quais a gente para e pensa em tudo que já foi e tudo que nunca será. Antes desse tempo de sentar e editar a vida, não estivéssemos ocupados fazendo ela acontecer. A gente finge que não tem nada errado, pra lembrar na próxima noite de insonia e encerrar com um fade out, acordar no dia seguinte e recomeçar tudo de novo com um corte imaginário. A gente finge que tem uma transição ali naquele ponto em que tudo se apaga e acende outra vez, finge que tem um intervalo pra ensaiar mentalmente a próxima cena, não estivéssemos dormindo essa hora seria o ensaio ideal.


A gente começa outro dia sem ensaios, o roteiro não está pronto e o making of não existe. Mas o dia seguinte acontece mesmo assim numa sequencia sem cortes. Todos os dias chegam sem cortes como os minutos que correm até a fita acabar. Ai só resta apertar play e torcer pra vida ter valido a pena, quase ao mesmo tempo em que ela aperta o próprio stop. Na falta de um pause pra pensar sobre o próximo angulo a gente só espera que no final das contas de tudo certo.

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